É engraçado pensar que tudo começou como um sonho. Literalmente. Desde que me entendo por gente, sempre falava que ia sair de casa com 18 anos e viajar o mundo todo. Talvez isso tenha sido motivado pelo meu irmão mais velho (12 anos de diferença) que, realmente, saiu de casa aos 19 e foi morar nos EUA por um ano. Na época eu tinha 6 anos, e acredito que tenha me inspirado a fazer algo semelhante para mim mesma. Da mesma forma, minha irmã mais velha (15 anos de diferença) estudava Turismo na faculdade e estava sempre viajando pelo Brasil. Lembro de ir buscar ela no aeroporto com minha mãe, por diversas vezes, e ela sempre tinha boas histórias pra contar (como da vez em que ela estava decidida em convencer minha mãe a termos uma iguana como animal de estimação...).
Por outro lado, meu irmão do meio (13 anos de diferença) sempre foi o mais pé no chão e estabilizado. Ele me ensinou que eu precisava ser responsável pelas minhas decisões e que, se eu decidisse por algo, que eu tivesse a maturidade de seguir com o meu propósito até o fim. Meus pais também sempre foram um pouco liberais, mas deixando claro que, se eu era capaz de fazer uma escolha, eu também deveria ser capaz de assumir as consequências - sendo elas boas ou não.
Como esse mix de experiências e visões de vida em casa, a caçulinha aqui teve a chance de ver 5 adultos buscarem por seus sonhos, de diferente formas, e colhendo os frutos de cada escolha. Isso foi uma escola de vida fundamental para moldar minha forma de pensar, e me ajudou a amadurecer mais cedo do que a maioria dos jovens da minha idade.
Quando fiz 18 anos, pensei: não tenho a menor condição de sair de casa agora. E realmente não tinha. Eu nem sabia o que queria fazer na faculdade, e trabalhava com meu pai em uma das suas lojas pra ter meu dinheiro. Os anos passaram, eu mudei de curso 3 vezes, até que finalmente firmei no Design de Moda. Na minha universidade, eles tinham um programa de estudo no exterior e essa foi a chance mais promissora que eu tinha tido até então de sair de casa.
Para conceituar meu desejo de viajar: quando eu fiz 15 anos troquei a tradicional festa por uma viagem pra Disney com minhas amigas. Ninguém, eu repito, ninguém nunca fez TANTOS orçamentos em agências de intercâmbio como eu fiz - sempre me empolgava, olhava diferentes lugares pra ir estudar inglês etc... mas a parte financeira era sempre a mais instável e, infelizmente (hoje vejo que foi ´felizmente´) nunca consolidei nenhum desses sonhos. Eu criei o hábito de pesquisar os melhores lugares para jovens estudarem no exterior, virei expert em busca de passagens aéreas (e como comprar com pontos etc)... eu me dediquei em fazer o que estava nas minhas mãos para que meu sonho se realizasse.
Enfim, foi apenas quando eu tinha 21 anos que consegui realizar meu grande sonho: através do programa de estudos no exterior da minha universidade, fui aceita para estudar por um semestre na segunda melhor faculdade da Argentina, a UADE. Se eu estava feliz? CLARO QUE NÃO! Meu sonho sempre tinha sido ir pra Europa, pra Austrália, pro Canadá... América do Sul não estava, nem de longe, nos meus planos. Mas, financeiramente falando, era a opção mais segura para mim. Então decidi colocar meu orgulho de lado, dar tchau aos meus amigos que estava indo para lugares mais legais do que eu, e fazer o máximo dessa experiência. Afinal, eu estava finalmente saindo de casa e indo morar no exterior!
Nesse programa eu tinha garantido o semestre na faculdade escolhida, então o departamento de Relações Internacionais da minha universidade me ajudou com toda o processo de matrícula, escolha de matérias etc... mas era por minha conta encontrar aonde eu iria morar, como eu iria me manter e qualquer outro assunto que não fosse relacionado com a faculdade argentina.
Entrei em vários grupos do Facebook para encontrar pessoas que já tinham morado em Buenos Aires, onde eles indicavam morar, melhores bairros, experiências etc.. também conheci uma pessoa da minha universidade que tinha estudado por um semestre em Buenos Aires, e ela me ajudou a conhecer outros estudantes internacionais que continuavam na capital argentina - o que me ajudou muito, muito mesmo, já que era minha primeira vez indo morar fora e eu não tinha ideia de onde começar a planejar!
Antes da minha viagem, graças a Deus, eu já tinha tudo resolvido: onde eu ia morar (numa casa de estudantes há um quarteirão da universidade, em um quarto dividido com duas outras meninas - o que eu achei bom, já que eu queria fazer amizades), quem iria me buscar no aeroporto (eu chegava à noite e contratei um transfer para me levar direto até a minha hospedagem), quanto meu pai ia poder me ajudar mensalmente (nesse intercâmbio eu não pagava pelo semestre em nenhuma das universidade, nem na minha no Brasil nem na UADE, na Argentina; muita gente usava o valor da mensalidade para se manter no exterior, mas eu tinha um programa de bolsa então eu já não pagava pela minha faculdade e meu pai precisou me ajudar com as despesas de morar fora).
Essa foi a primeira vez que eu saí de casa, e mesmo sendo através do meu esforço por conseguir a vaga na UADE (a gente precisava ser aceito, por notas e desempenho acadêmico), eu também precisei do suporte financeiro do meu pai. Depois dessa vez, todas as minhas outras viagens e moradias no exterior foram pagas por mim mesma, com dinheiro que guardei etc...
<3
