Querido diário,
Eu gosto muito de falar da minha experiência estudando no E.B.A. porque acredito que foi algo que realmente mudou minha maneira de olhar pra minha carreira e me fez abrir os olhos pra além das montanhas de Minas Gerais.
Mas eu morei duas vezes em Buenos Aires e quero falar sobre como foi enriquecedor pra minha personalidade ter tido essa experiência mágica: mas, ainda mais enriquecedor que essa experiência de estudo, foi a minha vivência em Buenos Aires: os amigos que eu fiz e tudo o que eu pude sentir na pele e que me mudou de diversas maneiras.

Quando eu me mudei pra capital argentina pela primeira vez foi no início de 2015. Eu tinha acabado de ser aceita no programa de intercâmbio entre minha universidade (Fumec, em Belo Horizonte) e a Universidade Argentina de la Empresa (UADE).
Cheguei na cidade totalmente crua: eu tinha penas o espanhol básico que a gente aprede no ensino médio; estava sozinha, sem nenhum amigo ou conhecido por lá; era minha primeira vez no país; eu NUNCA tinha morado sozinha na minha vida (lê-se: eu nunca tinha me mudado de CASA em toda a minha existência). Então, esse foi um passo grande pra mim (mesmo a Argentina fosse um país tão próximo do Brasil), mas, ao mesmo tempo, muito esperado: era meu sonho desde pequena ter a oportunidade de morar sozinha em outro país - e eu nunca tinha me sentido realmente pertencente à Belo Horizonte. Eu queria isso mais do que qualquer coisa e o medinho do total desconhecido não foi suficiente para me deter.
Ainda me lembro da minha primeira noite em Buenos Aires: eu tinha tido um voo tarde e cheguei na cidade num domingo (tudo vazio forever) quase de madrugada. Antes de viajar, meu pai havia entrado em contato com um táxi de confiança - que tinha sido recomendado por não sei quem - e o senhor já estava me esperando na saída do aeroporto, para minha tranquilidade.
Mas, por mais que isso pareça simples, na verdade, não foi: aterrizar em um solo desconhecido, com um idioma que não é o seu, num aeroporto internacional, ou seja, grande e movimentado, sem saber onde era o estacionamento e sem celular com internet (socorro né) rs... demorou um bocado pra eu achar meu querido motorista. Depois de algum tempo, e um coração gelado de desespero e ansiedade, eu e o tal Hector nos encontramos (porque claro que ele não estava em um lugar de fácil visibilidade com uma placa onde eu pudesse ler meu nome) e pude chegar na minha nova casa tranquilamente. Diga-se de passagem: o aeroporto internacional, Ezeiza, fica há uma hora da cidade.

Enfim, a casa já tinha sido alugada previamente, claro. Por indicação de uma ex-aluna da Fumec, eu me hospedei em uma república, ou melhor, uma moradia de estudantes rs. A localização era excelente: bem na 9 de Julho (avenida principal da cidade) e há um quarteirão da minha faculdade - super central e com muitas linhas de ônibus próximas. Mas nem tudo são rosas: eu dividia o quarto com mais duas meninas, uma brasileira e uma colombiana, que eram muito fofas na minha primeira semana lá mas depois mostraram que eram bem frias e individualistas hahah o importante é que tive alguém pra me auxiliar nos primeiros dias em questões de:
- onde ficavam as coisas principais na cidade, como funcionavam os bairros centrais;
- como usar o meio de transporte e recarregar o cartão (eles não aceitam dinheiro como pagamento nos ônibus ou metrô);
- e, principalmente, ter um número de celular.
Quando acordei na minha cama, depois da primeira noite, eu lembro que me sentia bem perdida. Olhei pra um lado, olhei pro teto e não reconheci nada de imediato nem raciocinei onde eu estava. Depois do primeiro susto eu me acostumei àquele lugar e me senti bem rapidamente. Fiz amizade com um outro brasileiro, que também era da minha universidade mas nunca tínhamos nos visto antes, e aproveitamos para conhecer a cidade juntos - a maravilha do primeiro amigo quando você está sozinha. YAY!

A UADE é uma universidade super internacional. Para vocês terem uma noção existe uma reunião só para os alunos de intercâmbio de TODO O MUNDO e essa reunião encheu uma sala de palestras bem grande! Éramos cerca de 50 alunos, de diversos países e, claro, que os brasileiros se encontraram rapidamente para fazer uma socialização. Uma das brasileiras, a Manu fazia faculdade nos EUA e tinha uma turma de amigos de lá que vieram juntos; outra brasileira, Nat morava em uma casa com um francês, um espanhol e dois mexicanos, que já estavam de intercâmbio há seis meses e haviam renovado o semestre... e assim fomos fazendo amizades, nos encontrando em grupo e, no final, eu tinha uma família linda, de umas 15 pessoas, dentre EUA, Brasil, França, México, Colômbia, Venezuela e Espanha.
A maioria morava com amigos e sempre fazíamos festas, jantares (alguns dos meninos estudavam gastronomia e eu descobri a vantagem de ter amigos que cozinhavam profissionalmente rs)
Nessa experiência eu aprendi a fazer supermercado para mim mesma - sem ter minha mãe gritando que eu tinha que comer isso ou aquilo; aprendi a cozinhar (ou a sobreviver rs); aprendi a vencer meu medo do desconhecido e a tomar ônibus de madrugada; aprendi como é bom sair de casa sem medinho de ser assaltada e ir pra festa com seus amigos depois de um dia inteiro na faculdade; aprendi a ficar perdida e ter que me virar pra aprender a voltar pra casa; aprendi a criar vínculos com pessoas que eu conhecia há pouco tempo, só porque estávamos no mesmo barco e queríamos nos ajudar; aprendi espanhol na marra e na zoação haha; tentei aprender francês; tentei aprender a cozinhar para meus amigos, mas acabei sendo a gordinha do grupo que só comia e tomava vinho; aprendi a ver foto da minha família toda reunida e querer estar lá mesmo sem poder; aprendi a valorizar os domingos com amigos ou família só porque quando você mora 'sozinho' você realmente conhece o que a solidão pode significar; aprendi a me virar sem pedir favor a ninguém (quando quebrei o cotovelo, por exemplo, andando de patins e tive que continuar cozinhando e lavando meu cabelo sozinha, sem minha mãe para cuidar de mim rs.
Morar em Buenos Aires foi muito prazeroso e me fez aprender muito de mim mesma. Eu conheci uma Ingrid que, até então, eu não tinha tido a oportunidade de saber que existia. Eu aprendi a economizar e a administrar o meu dinheiro como nunca antes, porque morar fora é mais caro e não dá pra gastar atoa, sem pensar no amanhã e sem se organizar até o fim do mês. E, se você esquecer de fazer supermercado (ou se acabar o dinheiro), sua mãe não vai aparecer com uma comidinha pronta pra te mimar. Nem vai pagar por um delivery que não estava no seu orçamento.

A cidade lá era cara: por mais que o real fosse mais valorizado que o peso argentino, a inflação era uma coisa de louco (e até hoje é). O país está quebrado e os preços no supermercado mudavam de um dia pro outro: era como viver na era Collor falando espanhol hahah
Outras coisas também me fizeram mudar de costume: a comida lá é diferente e não existe feijão no almoço (senhor!!!!!!!!). Pão francês também não era fácil de achar e, o costume argentino, eram as medialunas (tipo folhado, ou esses pãezinhos amanteigados) com doce de leite, ou facturas, que era com doce de leite, aquele creme amarelo doce ou geléias. Vinho é uma especialidade da Argentina e é bem comum e barato consumir em restaurantes ou comprando as garrafas - mais barato que comprar água mineiral!!!!
Outra coisa que me encantava enquanto eu morava em Buenos Aires: a cidade é linda, super européia e segura. Pelo menos mais segura que Brasil. O meio de transporte público é sensacional: ônibus funcionam 24 horas por dia e o metrô mais ou menos 20 horas por dia rs

Existem mil linhas de metrô e de ônibus, o que garante que você pode andar por toda a cidade sem precisar de um carro/táxi.
Eu gostava de sair de tarde durante a semana, depois da aula, e andar pela avenida de Mayo, calle Florida, ir até Puerto Madero e voltar. Era lindo, principalmente esse último, porque era pelo Rio de la Plata, onde tem a Puente de la Mujer e mil restaurantes deliciosos.
Os argentinos, em geral, são educados - mas não MUITO pacientes. Os homens, em especial, podem ser uns safados. O jeito deles conversarem entre si é bem grosseiro para os padrões brasileiros, o que me assustou um pouco de início.
Apesar de eu ter amado BsAs eu fiz pouquíssimos amigos argentinos.
Nos restaurantes ganhamos pãezinhos 'de graça' - na verdade está incluso na taxa de serviço chamado de cubierto. Os garçons acham que estão fazendo um favor de nos atender, então se prepare para esperar muito, mas a comida em geral é deliciosa!
Minha experiência na UADE foi mediana: fiz algumas classes, incluindo aula de francês, e o pessoal não era como nós brasileiros: ninguém nunca levantou da cadeira e veio correndo me perguntar de onde eu era, o que eu estava fazendo ali etc etc etc o que, claro, me estranhou bem hahah mas as aulas eram muito boas, as salas de aula eram de outro nível: super bem equipadas e confortáveis. A faculdade era um edifício gigante, que tinha até moradia! E, na parte das salas de aula, tínhamos dois Starbucks lá dentro, um Subway e alguns restaurantes de comidas típicas deles.
Resumindo, minha experiência nessa cidade foi mágica! Tive a grande sorte de conhecer pessoas maravilhosas que me ajudaram a ter um lindo intercâmbio. Amores e amigos que se tornaram família e que, até hoje, continuam fazendo parte da minha vida. Minha vivência sozinha gerou lindos frutos para minha maturidade e para a maneira que hoje eu lido, principalmente, com responsabilidade na minha área profissional.
Me apaixonei tanto por BsAs que voltei no ano seguinte para um ano de estudos em Produção de Moda, em outro instituto. Mas isso é tema pra outro texto, com mais detalhes da minha cidade portenha.
<3