Eu larguei tudo. Minha faculdade, minha família, meus amigos. Sai de casa, deixei meu carro, meus animais de estimação. Troquei minha confortável rotina pela incerteza diária. Abdiquei do meu medo e quis sentir na pele o que eu tanto sonhava. Começou com certa estabilidade: um intercâmbio realizado pela minha universidade com um país vizinho. Meus pais não imaginavam que esse seria o empurrãozinho que eu precisava pra colocar em prática o que eu tanto alertava à eles... Cresci sentindo que eu não pertencia à minha cidade. Cresci sentindo que o mundo era grande demais e não havia sentido em viver toda uma vida no mesmo lugar. E então eu fui, com medo, sem conhecer ninguém, sem falar o idioma fluentemente, sem saber ao certo o que me esperava. Meus amigos me achavam louca e, minha família, pensava que era uma fase e em poucos meses eu sossegaria o faxo.
Mãe, pai... Desculpa não ter voltado definitivamente. E hoje já completam muito tempo longe de casa. A saudade existe, é constante. Mas não é suficiente pra me convencer a voltar, a entrar na linha e fazer o que todo mundo faz. Muitas cidades depois, ainda tenho só cinco países no meu passaporte, mas sei que esse número vai crescer muito ainda. Aprendi a ser corajosa, a confiar nas pessoas, a fazer amizades em ponto na rua e a ver cada problema como aprendizado. Tive que aprender a controlar meu gênio, a achar graça do que antes me irritava, a ser um pouco menos explosiva e mais aberta às experiências.
Quando eu era menina eu me imagina com 20 e poucos anos toda descolada, viajada, divertida. E hoje, aos 23 anos, eu ainda espero me tornar essa mulher. Porque embora eu tenha ido pra longe, ainda me vejo como a mesma menina de sempre. Outro dia, em um ônibus comum em Montevideo, vi duas amigas de colégio se sentarem perto de mim. Usavam aquelas saias pregueadas, meias até o joelho e um suéter - uniforme típico em alguns países da América do Sul e que eu sempre quis usar. Fiquei prestando atenção nelas, no jeito de falar e sentar. E foi impossível não lembrar da minha época de colégio - a diferença que eu usava bermuda. E foi então que me dei conta: elas deviam ter uns 15 anos, o que significava que eu era 9 ANOS mais velha que elas. Puts, 9 anos é muita coisa. Eu não tinha percebido como o tempo voou e que, por incrível que fosse, eu ainda me identificava com elas. Ainda me sentia aquela menina de colégio, com suas amigas. Lembrei de um casal de amigos com seus 20 e tantos anos (uns 10 anos mais velhos que as meninas do ônibus). Eles já falavam em casamento, já eram mais relaxados com a vida, mais maduros provavelmente. E, infelizmente (ou felizmente) me sentia mais próxima daquelas meninas com seus quase 16 anos. Eu já quase faço 25 anos e isso deveria me classificar como adulta. E já fiz quase tudo o que uma 'mulher adulta' deveria fazer: já morei sozinha, já viajei sozinha, já viajei com amigas, já trabalhei, já quase formei, já namorei, já me apaixonei, já dirijo, ja sou (quase totalmente) independente, já... Tantas coisas. Então, por que, ainda me sinto como uma garota? Uma garota que é muito medrosa, mas não deixa o medo dominar. Uma garota que ama quando a mãe cozinha pra ela, embora ela já tenha aprendido a fazer comida e muitas vezes já tenha tido que se virar pra comer. Uma garota que quando não sabe o que fazer com a vida pega o celular e liga pra família pra pedir conselho (ou uma ordem) porque ela se sente perdida demais. Uma garota que ainda ama mais seus amigos do que seus namorados. Que sonha com o dia do casamento e com sua própria família, mas não tem paciência para relacionamentos longos. Que chora em filmes, que adora os animais e sente seu coração sangrar quando vê alguma maldade com alguém indefeso. Que tem medo de andar em ruas sozinhas, e precisa ouvir as opiniões de todos o que ela ama. Sempre.
E conclui que... Ser adulta não precisa ser tão independente emocionalmente, financeiramente e socialmente a todo momento.
Não preciso ser feita de aço pra mostrar que amadureci. Na verdade não preciso mostrar que amadureci. Porque isso simplesmente acontece. E, embora minha idade esteja aumentando sem meu consentimento Rs posso continuar a ser a mesma garota de sempre. E continuar seguindo meus instintos, fazendo minhas vontades, sonhando alto e caindo devagarinho na realidade.
Posso continuar brincando de viver. E ainda assim estar grande o suficiente para cuidar de mim mesma.