Uma das coisas que ninguém te conta sobre sair de casa é que, no momento em que você toma essa decisão, o seu mundo será para sempre dividido em dois. Isso porque suas experiências irão te moldar de maneira única, fazendo com que você não se encaixe de volta na sua vida antiga, e esteja sempre pela metade na sua vida nova. Vou explicar melhor...
Quando eu saí de casa eu tinha 21 anos. Estava realizando o grande sonho da minha vida, de morar fora do país. Na minha utopia, eu pensava que essa experiência seria só flores e que, quando eu voltasse para Belo Horizonte, eu estaria mais independente e mais segura de mim mesma. No final do dia, a verdade é que eu sonhava em não voltar para minha cidade natal, e acreditava que não ia sentir falta da minha vida antiga. Ingenuidade pura...
Nessa época eu tinha me mudado para Buenos Aires, para fazer um semestre da faculdade de Moda por lá. Era um programa de parceria entre ambas as instituições (FUMEC e UADE), que trocavam estudantes para que houvesse maior propagação cultural entre os alunos. Além disso, era minha primeira vez morando sozinha. Bem, ´sozinha´ já que eu morava em uma república e dividia quarto com uma colombiana muito mais jovem que eu - e com zero juízo na cabeça rs
Quem conhece Belo Horizonte sabe que, o que não tem por aqui, são estrangeiros. Já em Buenos Aires o cenário é o oposto: a cidade é conhecida por ser a Paris da América Latina, e atrai muitos estudantes de diversas partes do globo, para estudar e se divertir na famosa vida noturna portenha. Quando cheguei na recepção de alunos de intercâmbio, eu fiquei extremamente surpresa em ver que não éramos apenas os 3 alunos da FUMEC... mas dezenas de alunos, da europa, America latina, Estados Unidos.
Depois de 5 meses, meu intercâmbio acabou, a maioria dos meus amigos já tinham voltado para seus respectivos países, e eu estava numa ansiedade extrema imaginando como seria meu retorno. Eu sabia que tinha gostado muito de morar fora e, decididamente, tinha amadurecido muito nesse período - mais do que se nunca tivesse experimentado me jogar no desconhecido.
Voltar pra casa DECIDIDAMENTE seria muito custoso. Eu estava no auge da minha juventude e já tinha conhecido pessoas tão incríveis de tantos lugares que eu sonhava em ir... e eu tinha a certeza absoluta de que nunca mais queria morar em Belo Horizonte.
E esse foi o início de todo o processo. Hoje, sete anos depois, estou casada com um americano, moro nos Estados Unidos, e estou passando uma temporada de volta na minha cidade. Amadurecer me fez ver que, por mais que eu quisesse que o mundo me levasse, minhas raízes só iriam se fortificar com o tempo. Hoje eu valorizo muito todo o tempo que posso passar perto dos meus amigos e da minha família. Todo aniversário que posso comparecer, feriado que posso comemorar junto etc. Isso porque, depois que a gente fica isolado, voltar pra casa faz a gente se sentir tão amado!
Não entenda mal: morar nos Estados Unidos me satisfaz tanto quanto morar aqui. Só a adaptação que é mais lenta, e as relações precisam de tempo para serem criadas e desenvolvidas. Eu amo a oportunidade de realizar um dos meus sonhos de quando mais nova, que naquela época parecia tão distante e tão tolo, mas que hoje eu VIVO isso.
Mas morar em um outro lugar faz isso com você: não importa o quão adapta eu esteja nos EUA, ou seja lá onde eu decida morar a longo prazo, eu não estarei com a minha família, com meus amigos, comendo a comida que eu tanto amo, lidando com as pessoas da maneira que eu aprendi desde pequena. Mas já não há espaço para voltar no tempo, e morar de forma integral para Belo Horizonte, largar minha vida pra trás apenas pela saudade, deixar meus novos amigos, minhas experiências, minha liberdade... porque hoje minha vida está lá.
E é quase cômico pensar que essa divisão só vai aumentar com o tempo e, cada vez mais, fazer menos sentido: sempre penso que, quando eu tiver meus filhos, claro que quero que meus pais, meus irmãos, meus amigos sejam parte da vida deles. E, ao mesmo tempo, não posso ignorar o prazer de ter uma rotina, de frequentar uma escola americana, de seguir com a minha vida por lá.
É engraçado pensar que, o simples ato de ´sair de casa´ pode te trazer tantas mudanças de trajeto e de comportamento. Uma atitude tão inofensiva, tão ´divertida´, mas que pode desenrolar em se apaixonar por um grito (rs) e de repente ter a sua vida toda virada de cabeça para baixo.
Já faz um mês e meio que estou de volta na minha cidade e, a cada dia, se torna mais difícil e (olha que louco isso) mais sensato voltar para os Estados Unidos o quanto antes. Este está sendo o meu diálogo interno diariamente: colocar em uma folha de papel os prós e os contras para continuar aqui e aproveitar minha cultura o máximo que eu puder.
E você, consegue se relacionar com essa situação? Você já saiu de casa, ou mudou de cidade ou país?
Como é pra você voltar ´pra casa´, seja lá onde seja o seu lar?
Deixa nos comentários que eu vou amar compartilhar alguns insights com você <3
